Vargas Revisitado
O diretor do Centro Celso Furtado, Pedro Cezar Dutra Fonseca, bacharel e mestre em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e doutor pela USP, lançou no final do ano passado a terceira edição do livro Vargas: o capitalismo em construção 1906-1954, pela Editora Hucitec. Conversamos com ele sobre a obra e a motivação para reeditá-la com aprimoramentos.
A obra está na terceira edição, e foi revista. Que aspectos, especificamente, motivaram a revisão?
A obra é fruto de minha tese de doutorado, defendida no IPE/USP em 1987. Já tivera duas edições, ambas pela Brasiliense, esta nova tem o selo da Hucitec. O livro ganhou Menção Honrosa do Prêmio Haralambos Simeonidis, concedido pela Associação Nacional dos Centros de Pós-Graduação em Economia (Anpec), naquele ano. Atualizar uma obra depois de quase três décadas implica escrevê-la novamente, uma vez que o mundo e a historiografia também acompanharam esse processo de mudança. Então resolvi fazer um prefácio à terceira edição onde realizo um pequeno balanço do que hoje eu alteraria, mas o texto permanece o mesmo anterior. Cheguei à conclusão que as alterações eram poucas diante do que lá está escrito. Mudaria detalhes, acrescentaria novos dados, mas a proposta de trabalho e seus fundamentos metodológicos eu os mantenho em pé. Mas é claro que outras pessoas, e eu próprio, continuamos a pesquisar sobre o tema, de modo que o “estado das artes” se alterou. De lá para cá eu já orientei quase 30 teses de doutorado e outras tantas dissertações de mestrado, muitas delas sobre o tema do livro. A linha mestra da tese permanece por meio dos discursos e das propostas de Vargas ao longo de sua vida pública, que nos faz entender a formação da industrialização e do capitalismo no Brasil; e confrontar o que ele pensava e propunha com o que realizou, mostrando como ele é fruto de um momento histórico, mas ao mesmo tempo um de seus principais intérpretes e agentes. Portanto, a análise foi conduzida com vistas a entender o desenvolvimentismo brasileiro, suas conquistas e limites, suas vitórias e frustrações. Só para dar um exemplo: uma interpretação que eu mudaria hoje, e explico no referido prefácio, é sobre o populismo. Na época, pela influência da sociologia uspiana, praticamente todos os intelectuais brasileiros interpretavam a “Era Vargas” como exemplo de populismo político e econômico. Hoje tal literatura está sendo revista e em artigos mais recentes tenho procurado me associar à nova leitura e apontar os limites dessa linha teórica.
A quem o livro se destina?
O livro se destina ao público em geral. Apesar de ser uma tese de doutorado não recorre a uma linguagem hermética. Lembro quando o saudoso Caio Graco, da Editora Brasiliense, o recebeu para análise, logo me adiantou que não costumava publicar teses acadêmicas, pois algumas experiências não tinham sido muito boas. Mas após ler os originais ele voltou atrás. Se o livro chega à terceira edição é porque o seu público não é tão restrito. Mas, é claro, o público preferencial são estudantes e professores de Economia e de Ciências Humanas em geral. Ele é também utilizado em cursos de Direito, principalmente em Direito do Trabalho, disciplina em que os alunos são apresentados ao contexto e aos debates sobre a legislação trabalhista nascente. Recentemente me surpreendi quando fui procurado por alunos de Arquitetura que o leram, justamente para entender o quadro histórico do século XX. Afinal, a obra começa com o primeiro discurso de Vargas, em 1906, quando ele ainda era estudante, e termina com sua última manifestação: a carta-testamento deixada quando se suicidou.
As cinco regiões brasileiras em análise
Inspirado no desafio de olhar para a questão regional brasileira, com a prioridade de reduzir as ainda imensas desigualdades existentes entre as regiões do país, o BNDES, por intermédio do Comitê de Arranjos Produtivos, Inovação, Desenvolvimento Local, Regional e Socioambiental (CAR-IMA), coordenado por Helena lastres, sócia do Centro Celso Furtado, realizou, a partir de 2012, cinco importantes seminários. Cada um deles focou sobre uma região do Brasil, tendo sido convidados para cada seminário ilustres pesquisadores, estudiosos e gestores locais. Os resultados obtidos inspiraram a edição de obras que retratam um olhar territorial para o desenvolvimento da Amazônia, do Centro-Oeste, do Nordeste, do Sul e do Sudeste. Apenas este último ainda não foi lançado. Os demais já estão disponíveis na Biblioteca Celso Furtado para consulta.
De Portugal para a Biblioteca Celso Furtado
A Biblioteca Celso Furtado (BCF) foi enriquecida com a doação de cinco obras de autoria do professor António José Avelãs Nunes, da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, de Portugal. Agraciado com a Ordem do Rio Branco, António Nunes foi convidado pelo Ministério da Educação do Brasil para integrar a Comissão de Avaliação Trienal dos Programas de Pós-Graduação em Direito nos anos de 2001, 2004 e 2007. Com vários artigos e livros publicados, em Portugal e no Brasil, Nunes é membro dos Conselhos Consultivos, Científico e Editorial de várias revistas científicas. A seguir, a relação das obras que ele ofertou à BCF.
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